segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O ateliê de Giacometti





"Quando bruscamente apareceu Osíris- pois o nicho é cavado rente à parede- sob a luz verde, tive medo. Naturalmente, foram meus olhos os primeiros informados? Não. Meus ombros, antes de tudo, e a nuca, esmagada por uma mão, ou uma massa, que me obrigava a mergulhar nos milênios egípcios e, mentalmente, a me curvar, e, mais até, a me encolher diante dessa pequena estátua de olhar e sorriso severos. Tratava-se realmente de um deus. O deus do inexorável. (Refiro-me, é claro, à estátua de Osíris em pé, na cripta do Louvre.) Tive medo porque se tratava, sem dúvida nenhuma, de um deus. Certas estátuas de Giacometti provocam em mim uma emoção bem próxima desse terror, e um fascínio quase tão grande. (...)"

Quando o encontrou pela primeira vez num café, em 1954, Alberto Giacometti (1901-1966), impressionado pela fisionomia de Jean Genet (1910-1986), logo desejou retratá-lo. Foi a calvície de Genet que o atraiu. Giacometti tinha especial interesse pela estrutura das cabeças, e a ausência de cabelos ajudava a revelá-la. Das sessões de pose para os desenhos e pinturas que se seguiram até 1958 nasceu a amizade entre o escritor e o artista, facilitada pela admiração e identidade que sentiam pela obra um do outro.
Link: fondation-giacometti.fr
O ateliê de Giacometti, Gean Genet, 1979- Tradução: Célia Euvaldo- Cosac & Naify Edições, 2000.

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