sábado, 5 de setembro de 2020

Queimada - Danilo de S'Acre






Tudo finjo inflijo
Deste destino instante
Poeira pó fuligem soluço
Além das almas retirantes
Tira e põe poema estalado
Credo de quem desdenha
Outras gaiolas asas assadas
Através do olho malogrado
Cego chego a vagarosamente
Divagar sobre tudo extinto
O pranto extingue o abrasador
Mas fazer feitiço e prece
Nada sobra nada... Nada.



 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Memória.

 

Teve um tempo

quando eu era criança

Vinha da colônia pra cidade

O Mercado Velho era um labirinto

ao redor uma profusão de gente

Feito formigas tontas fascinantes

Eu me perdia com meu pai

entre vielas mazelas e cores

Todo encanto guardado

Fervilhão espanto magia

Ainda gotas de lembranças 

Embaçados vozes sustos vultos

Fantasmas exalam fragrâncias

O tempo passa rápido

Meu pai e minha mãe 

Agora foram embora 

Onde estarão agora?

Talvez estejam a passeio

Daqui a pouco vou encontrar

sendo eu ainda criança 

passear também irei 

no vai e vem do camelódromo

Genérico osso de carne e plástico 

Bactérias e lapso made in china

unificado pelo Mercado Velho

Paira através da memória

As horas distraídas do coração

costuram as cinzas dispersas.

Danilo de S'Acre

terça-feira, 9 de junho de 2020

Prece Poema


Prece argêntea  saqueada
Jorra da terra um suave suspiro
Um cheiro de flor esmagada
Algo existe guardado no abraço
Pêsames orgasmos híbridos
renasce o instante ébrio
Turva saliva confusa carnívora
Onde os olhos explodem
Vitral caleidoscópio o ópio
Orifício um vício ofídico
Em silêncio recua a ebriez
Sensorial ao vômito sagrado
De joelhos sem pressa
o milagre esvanesce
Vácuo rogado às pressas
Nasce agora à luz d'aurora.

Foto poema: Danilo de S'Acre

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Um poeta...



Trago nos bolsos furados
Poemas amassados
rasurados e decrépitos
A pele ressecada da ânsia
arcaica incisa a ferro e fogo
Transmuta a pele pútrida
adormecida na areia
do tempo fátuo pergaminho
Último salto no fracasso sucinto
Dias melhores à guisa
crescente dentro d'alma rasa.


Fotopoema: Danilo de S'Acre