Exposição individual
de Danilo de S'Acre
Galeria de Arte do Sesc - Rio Branco - Acre.
Ressignificações
das Inutilidades
O
artista visual Danilo de S’Acre, através do programa Calenarte do Sesc – Acre,
traz ao público acreano, a exposição
Ressignificações das Inutilidades, com vernissage no dia 04/11/2016, às 19h, na galeria de Arte do SESC- Centro.
Um
trabalho visual, plástico ou poético tem sempre a configuração de discurso. Nesta
exposição o artista propõe olhares e maneiras diversificadas do olhar,
percorrendo o que encontra na natureza, na cidade e no rio, coisas descartadas
e reinventadas com ressonâncias e ancestralidades da sensibilidade artística,
desconstruindo e reinventando outras possibilidades.
Objetos
“jogados no mato”, instalações, assemblages, pinturas e desenhos, estarão neste
magnetismo e podem causar recorrências e
intervenções, discordâncias ou
apropriações para indagações a novas
leituras e discursos.
Um
projeto repleto de esquisitices, estranhamentos, surpresas e fantasias para a instauração ou
renovação natural das maneiras do olhar.
Será
exibido o filme Arqueologia do recente – Ensaios e impertinências. 12’11 min.
(2015) do artista Danilo de S’Acre.
A
exposição ficará disponível à visitação, no período de 04 a 30 de novembro de
2016.
Link
filme Arqueologia do recente https://vimeo.com/148174015
Agenda Cultural Amazônia Revista:
Matéria Amazônia Revista:
Agência de Notícias do Acre:
http://www.agencia.ac.gov.br/artista-acreano-expoe-obras-feitas-com-materiais-descartados-na-natureza/
DAS
INUTILIDADES
Laélia Rodrigues
Quando vi a exposição RESSIGNIFICAÇÕES DAS INUTILIDADES, de Danilo de S’Acre
(Galeria do SESC, de 04 a 30 de novembro) de imediato me veio à cabeça nomes de
outros artistas que também escolheram expor em suas obras esse sentido de
inutilidade. Mário de Andrade, em “Dois poemas acreanos”; Bispo do Rosário, em
suas instalações e objetos múltiplos; Manoel de Barros, em vários dos seus
poemas, e Vick Muniz, em suas fotografias. Fiquei pensando sobre o que seriam
essas inutilidades e o que relacionava o trabalho de Danilo ao trabalho desses
outros artistas. E ao mesmo tempo, o que seriam as coisas inúteis do que aquela
exposição tratava, além do que consideramos inútil nas nossas vidas.
Muitas coisas, certamente. Porém, pensando depois nesses artistas e em suas obras entendi que a inutilidade das coisas está no lugar onde são colocadas, na falta de serventia em determinadas situações, na inércia dos objetos, na falta de beleza, na ausência de vida e na ausência de significados atribuídos, só existe significado na presença de sujeitos.
Mário de Andrade nos poemas “Descobrimento”, fala do “livro palerma” que não lhe diz nada sobre o longe como o Acre e em “acalanto do seringueiro” refere-se além da inutilidade de um “despropósito de livros que não dão gosto de amor”, às inutilidades compradas e que fazem dívidas em nosso país: jóias, roupas de “Palm Beach” ,dentre outras coisas desnecessárias na vida desse homem “na escureza da mata virgem do Acre”. Bispo do Rosário faz objetos fantásticos, brotados do seu inconsciente. Manoel de Barros diz que “ a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balança nem com barômetros etc” e que “o cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que uma Usina Nuclear” (Memórias inventadas – A segunda infância). Vick Muniz mostra em suas fotografias imagens criadas a partir de objetos descartados, jornal e revista velhos, tecidos, cordões, papelão, calda de chocolate, macarrão etc ( Exposição de fotografia, na Maison Europeènne de la photografie, Paris, junho/agosto de 2016) onde o objeto que resta e tem significado é a fotografia que alguém vê, não o fotografado.
O que tem a ver tudo isso com a exposição do Danilo? Fiquei matutando. Tudo. A disposição de doar seu tempo a catar, limpar, alisar, afagar, esticar, colorir, dar nomes ( como escreveu João Veras, em seu belo poema que acompanha a exposição), dar valor, significados a objetos, que em sua origem, depois que perderam a possibilidade de uso, não tem mais nenhum. Então os objetos ganham importância e subjetividade para aqueles que os veem com os “quatro olhos de criança fazendo peraltices”(Manoel de Barros) que os transformam e lhes dão nova significação e vida, as coisas passam a ser outras coisas, e quem as vê só vê o que o artista inventou. (aí vem Fernando Pessoa) chega!
Aquele galho de árvore, suspenso, retorcido e colorido é uma cobra? Quem quiser pode imaginar assim. Aquelas madeiras com cordas e um monte de penduricalhos tudo cheio de cor, leveza e movimento, totens? Pode ser. Aquele tambor e o metal todo amarfanhado que parece flutuar, fazem uma composição brilhante e instigam as pessoas a interagirem, fotografando junto, criando sombra que, no final, vira um extra terrestre ou uma dessas figuras tão caras aos amantes das invenções digitais. Pode ser. Os instrumentos musicais tocam sons infinitos em sua solitude e silêncio delicados. Possível. Por que aquela pintura no chão? Será que a gente pode pisar? Pode sim, como um tapete, uma passarela. No meio disso tudo: telas. Geralmente procuramos uma mensagem, quando vemos uma tela pintada e em exposição. Herança de uma tradição mimética nas artes plásticas. A arte contemporânea rompe com essa obrigatoriedade. Vê-se formas, movimento, cor, texturas em harmonia que agradam ou desagradam e é no sentimento, emoção que se produz o significado.
Pois bem, a exposição RESSIGNIFICAÇÕES DAS INUTILIDADES está na Galeria do SESC. Qual a utilidade dela? Recorro novamente aos artistas que lembrei no começo. Talvez ninguém compre para enfeitar a sala e combinar com o sofá; não serve para vestir, comer, morar e tantas outras coisas que se espera terem utilidades dessa natureza. E , principalmente num tempo de tanto consumismo. Mas servem para encantar nossa vida, embalar sonhos, despertar intuições, acalentar nossa sensibilidade. Essas são algumas das utilidades, são infinitas. Pena que não haja incentivo do poder público na elaboração de suas politicas de prioridades, na educação, na cultura de nosso estado. Bem essa parte fica para outro momento.
Agora o importante é aproveitar: ver a exposição. E, sem esquecer: assistir aos filmes do Festival de Cinema Pachamama. Tudo ainda esta semana.
Muitas coisas, certamente. Porém, pensando depois nesses artistas e em suas obras entendi que a inutilidade das coisas está no lugar onde são colocadas, na falta de serventia em determinadas situações, na inércia dos objetos, na falta de beleza, na ausência de vida e na ausência de significados atribuídos, só existe significado na presença de sujeitos.
Mário de Andrade nos poemas “Descobrimento”, fala do “livro palerma” que não lhe diz nada sobre o longe como o Acre e em “acalanto do seringueiro” refere-se além da inutilidade de um “despropósito de livros que não dão gosto de amor”, às inutilidades compradas e que fazem dívidas em nosso país: jóias, roupas de “Palm Beach” ,dentre outras coisas desnecessárias na vida desse homem “na escureza da mata virgem do Acre”. Bispo do Rosário faz objetos fantásticos, brotados do seu inconsciente. Manoel de Barros diz que “ a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balança nem com barômetros etc” e que “o cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que uma Usina Nuclear” (Memórias inventadas – A segunda infância). Vick Muniz mostra em suas fotografias imagens criadas a partir de objetos descartados, jornal e revista velhos, tecidos, cordões, papelão, calda de chocolate, macarrão etc ( Exposição de fotografia, na Maison Europeènne de la photografie, Paris, junho/agosto de 2016) onde o objeto que resta e tem significado é a fotografia que alguém vê, não o fotografado.
O que tem a ver tudo isso com a exposição do Danilo? Fiquei matutando. Tudo. A disposição de doar seu tempo a catar, limpar, alisar, afagar, esticar, colorir, dar nomes ( como escreveu João Veras, em seu belo poema que acompanha a exposição), dar valor, significados a objetos, que em sua origem, depois que perderam a possibilidade de uso, não tem mais nenhum. Então os objetos ganham importância e subjetividade para aqueles que os veem com os “quatro olhos de criança fazendo peraltices”(Manoel de Barros) que os transformam e lhes dão nova significação e vida, as coisas passam a ser outras coisas, e quem as vê só vê o que o artista inventou. (aí vem Fernando Pessoa) chega!
Aquele galho de árvore, suspenso, retorcido e colorido é uma cobra? Quem quiser pode imaginar assim. Aquelas madeiras com cordas e um monte de penduricalhos tudo cheio de cor, leveza e movimento, totens? Pode ser. Aquele tambor e o metal todo amarfanhado que parece flutuar, fazem uma composição brilhante e instigam as pessoas a interagirem, fotografando junto, criando sombra que, no final, vira um extra terrestre ou uma dessas figuras tão caras aos amantes das invenções digitais. Pode ser. Os instrumentos musicais tocam sons infinitos em sua solitude e silêncio delicados. Possível. Por que aquela pintura no chão? Será que a gente pode pisar? Pode sim, como um tapete, uma passarela. No meio disso tudo: telas. Geralmente procuramos uma mensagem, quando vemos uma tela pintada e em exposição. Herança de uma tradição mimética nas artes plásticas. A arte contemporânea rompe com essa obrigatoriedade. Vê-se formas, movimento, cor, texturas em harmonia que agradam ou desagradam e é no sentimento, emoção que se produz o significado.
Pois bem, a exposição RESSIGNIFICAÇÕES DAS INUTILIDADES está na Galeria do SESC. Qual a utilidade dela? Recorro novamente aos artistas que lembrei no começo. Talvez ninguém compre para enfeitar a sala e combinar com o sofá; não serve para vestir, comer, morar e tantas outras coisas que se espera terem utilidades dessa natureza. E , principalmente num tempo de tanto consumismo. Mas servem para encantar nossa vida, embalar sonhos, despertar intuições, acalentar nossa sensibilidade. Essas são algumas das utilidades, são infinitas. Pena que não haja incentivo do poder público na elaboração de suas politicas de prioridades, na educação, na cultura de nosso estado. Bem essa parte fica para outro momento.
Agora o importante é aproveitar: ver a exposição. E, sem esquecer: assistir aos filmes do Festival de Cinema Pachamama. Tudo ainda esta semana.
Laélia Rodrigues
A exposição de arte, de Danilo de S'Acre, inaugurada na Galeria do SESC, dia 4 deste mês, e que permanecerá até dia 30, além de ser uma ótima oportunidade para apreciar a arte da melhor qualidade que se faz em nossa cidade, é também um bom motivo para refletir sobre tudo o que está relacionado com a criação artística: a obra, o artista, os processos de criação, os conceitos estéticos e a sociedade, dentre tantas outras possibilidades de reflexão.
No dia do "vernissage " observei que a multiplicidade de expressões manifestadas no conjunto das obras funcionou como um convite, de pronto aceito pelas pessoas que circulavam na galeria, muita gente se apresentou para falar e , em geral, se ressaltou a beleza, a contemporaneidade, a diversidade e riqueza cromática que encantavam os olhos de todos. Havia uma energia de felicidade pairando naquele ambiente, havia vida.
Não posso escrever sobre tudo isso, embora tenha me impressionado. Acho que somos muito carentes de acontecimentos dessa natureza. Talvez por isso esteja escrevendo agora, para dizer que minha vida fica mais rica de significados sempre que vejo uma exposição, assisto a uma peça, a um filme, quando leio, quando ouço uma música, enfim, sempre que tenho a chance de apreciar uma obra de arte.
E a arte do Danilo, nessa exposição, sobretudo, tem a força de transformar as coisas mais inusitadas e sem valor aparente, em objetos plenos de significações muito provocativas.
Objetos inertes, cujo destino seria o descarte, pedaços de lona ganham forma, cor, textura e leveza que encantam nosso olhar. Ouriços sem castanha, roídos e inertes se associam a pedaços de madeira, corda, cordão, galho torto sem folha, e tantos outros objetos ganham movimento, novos contornos, recheios, coloridos, tornam-se símbolos, que embalam a gira que gira o mundo, como mágica, essa , do circo, da vida, de todo lugar, de todo povo: é ancestral. Trompete que já não toca e outros instrumentos inventados, que em concerto ou individualmente vibram e asseguram a sinfonia que nossos ouvidos querem ouvir. Tem tela também. É ricamente sinestésica a exposição do Danilo. É libertadora. Não apenas do artista que desabafou, naquela noites encantadora, mas de todos que precisam da arte em suas vidas.
Quem ainda não visitou a galeria do SESC e não viu a exposição poderá fazê - lo até o dia 30 de novembro de 2016.
PRA QUE SERVEM AS DES-SERVENTIAS DO
MUNDO
João
Veras
Joga no mato! Tá sujo! Não toca mais! Não presta! Esculhambou!
Torto, envergado, oblíquo, sem métrica, sem rima, sem cor!
Hoje vi alguns restos - coisas para o desuso, nos ensinam.
Objetos condenados a não servir a nada
que o artista coletou
do mundo-lixo e fez sua casa.
[...enquanto a sua televisão adverte: pra quê tanto isso se os
supermercados estão cheios de novos, luxos,
corretos e a crédito?]
Os mesmos materiais que ontem que amanhã.
Estes de todo tempo
do tempo todo do eterno hoje do consumo.
Aqueles que só os olhos educados para o sujo
e para o sem-valor conseguem atestar.
A resistência dos solitários no mundo das utilidades-massas.
Mas a casa do artista é erguida - coleta a coleta,
pois ele, só ele – como uma mãe -
é que enxágua, é que esfrega, é que lava, é que estende, é que seca,
é que passa pelo pincel da aquarela a alma viva
acesa da lama da árvore morta
para que - morta - viva espelhada no curso das águas meladas de barro:
- precipícios plásticos invisíveis, abismos sonoros inaudíveis, escuros
de luminosidades.
As falsas ruínas em telas de engenho das formas e cores das imagens
ações.
Voltei da casa do artista e não saí mais de lá.
É quando quando é
- sim -
em que o que não é arte é.
O
RESSIGNIFICADOR
Clenilson Capú Batista
Um
ressignificador é um destruidor de realidades. Faz tempo que não via um em
ação. Parabéns ao meu irmão de floresta, Danilo de S'Acre.
Nesses últimos dias estive ocupado uns projetos, mas sobrou um tempinho para ver algumas coisas boas. Uma delas, foi a exposição do Danilo, no Sesc centro.
Nesses últimos dias estive ocupado uns projetos, mas sobrou um tempinho para ver algumas coisas boas. Uma delas, foi a exposição do Danilo, no Sesc centro.
Curti os estranhamentos dos instrumentos e a
musicalidade da esperança, soando transgressora, transmutante, tocando as
sensibilidades dos apreciadores. Saí de lá envolvido por uma ruidosa música
silenciosa da Terra pedindo socorro.
Imaginei e ouvi, montanhas de instrumentos tocando a atualmente sustentável grande sinfonia do fim do mundo.
Encontrei por lá o meu amigo músico, Arthur José Miúda, que fez um convite para mim falar um pouco sobre a minha visão de arte e transgressões artísticas lendárias as alunas que estavam com ele por lá junto o professor.
Foi um papo bem agradável. É sempre bom encontrar pessoas com a mente aberta para trocar umas ideias. Valeu, demais!
Imaginei e ouvi, montanhas de instrumentos tocando a atualmente sustentável grande sinfonia do fim do mundo.
Encontrei por lá o meu amigo músico, Arthur José Miúda, que fez um convite para mim falar um pouco sobre a minha visão de arte e transgressões artísticas lendárias as alunas que estavam com ele por lá junto o professor.
Foi um papo bem agradável. É sempre bom encontrar pessoas com a mente aberta para trocar umas ideias. Valeu, demais!
Das inutilidades, do inservível e invisível, se fez, se faz e se cria arte. Da inutilidade para a utilidade do pensamento e da inquietação!
Obrigada Danilo pela presença diária e por receber os visitantes com atenção e por ter nos proporcionado inquietações pela sua arte. Agradeço a todos os artistas, amigos e apreciadores pela presença no bate-papo ontem, pela celebração do encerramento da exposição.! Grata.
Nárdia Tainá
Equipe de montagem: Darci Seles, Elaine Rodrigues, Sil Seles, Ronaldo Atílio, Anderson Assef.
Iluminação: Luiz Rabicó.
Fotos: Antonia Oliveira, João Veras, Nárdia Tainá, Silvio Margarido, Giselle Lucena, Danilo de S'Acre, Alcinete Damasceno, Écio Rogério, Darci Seles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário