Pois é, (...),
as minhas pinturas da fase Acre são, hoje, como uma janela por onde tento me
ver. Deixei Minas ao 29 anos, quando pintava somente paisagens coloridas,
amplas.... e, lá, minha pintura escureceu. Não sei bem explicar: não sei se a
cor de madeira envelhecida das casas e a pobreza me obrigaram a ficar escuro ou
se eu escolhi as cores escuras por não saber bem como lidar com as cores,
ainda. Não sei se foi uma natureza que deu um pouco de tom ou se foi a cultura
deficiente que fez como pode... Acho que as duas coisas.
Figuras do Papoco I
Figuras
do Papoco I. Em Rio Branco, Acre, havia um puteiro miserento chamado
Papoco (de pipoco, estrondo, tiro). Pintei uma série, em papel, com
essas figuras perdidas e de uma solidão imensa. Ficou no Museu da
Borracha do Acre.
O então governador do Acre, Geraldo Gurgel de Mesquita visitando a exposição de Genésio Fernandes, 1978. Rio Branco, Acre.
Alunos da primeira escolinha de arte criada no Acre por Francisco Gregório Filho, presidente do DAC-Departamento de Assuntos Culturais e por Genésio Fernandes. Abaixo, vou relacionar os nomes desses alunos que trabalharam, aprenderam e produziram uma série de desenhos que foram apresentados na exposição representativa do Acre , em Brasília. Para quem escreve a história das artes no Acre - isso é bom saber.
- Na foto, da esquerda para direita, sentadas: 1) Márcia Fernandes; 2) uma senhora de quem não sei mais o nome. De pé, da esquerda para a direita, sete pessoas: 1) José Roberto; do 2, 3 e 4 não sei mais o nome; 5) Hélio Melo; 6) parece ser Neutemir de Souza Feitosa; 7) Efrain Henrique Mendoza.
O artista Genésio Fernandes
NOTAS SOBRE MEU TRABALHO: DESENHO E PINTURA
Nos
últimos tempos, tenho desenhado muito. Minha mão exige um movimento que não
parece nada comportado ou conforme o visível que já existe no mundo: é um outro
movimento, entre o que eu determino e o que se me impõe e, de cuja energia
despendida, surge um outro visível, como que de uma paisagem atravessada
de indeterminações e forças que mal conhecem rumos, mas que sustentam, por
dentro, o visível resultante: coisa estranha, mas que existe porque aparece, se
mostra em carnadura palpável. Diria até que tem odor em forma de um timbre
existencialista, em plena época de um mundo reluzente e de aparência plena e
como que sem dilaceramentos.
Depois,
acontece de eles me olharem, solicitando alguma espessura, algum tinido de
blues, algum rumor de canto gregoriano. Então vem a pintura, em camadas, por
movimentos de golpes, enrodilhamentos, sinuosidades multindirecionais. Lá da
brumosa espessura da massa de valores, um resíduo do desenho gritando um
sentimento estranho, de uma incompletude infinita, na sua finitude e brevidade.
E,
acontece de, às vezes, isso me olhar de novo, solicitando mais uma outra
dimensão, como que uma ânsia de totalidade de expressão – e eis que me entrego
novamente a essas ilusórias solicitações, a essa compulsão de ser disso que me
solicita, ainda, os gestos - arriscados, sim, porque meio às cegas e de
uma enunciação solitária - para atender ao que, sei, nunca se mostrará em
plenitude clara o suficiente.
Então, às
vezes, ocorre de a morte disso sobrevir – como castigo à presunção estética da
perfeição ou simplesmente só para deixar resíduos numa memória que voltará um
dia, em outras encarnaduras dos visíveis que preparam primeiro e longamente sua
manifestação. Não sei.
A continuar...
Genésio
Fernandes
Exposição no Museu de Arte Contemporânea -MARCO. MT. Curadoria de Umberto Espíndola.
Genésio Fernandes, José (Maria da Fé, MG, 1946). Artista plástico, pinta desde 1967. Em 1970, participou do curso Pintura-Iniciação no Festival de Inverno de Ouro Preto/MG, obtendo Primeiro Prêmio. Em 1974, formou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Itajubá/MG. Em Rio Branco, entre 1977/79, atuou no Departamento de Assuntos Culturais do Acre, fundou a primeira Escolinha de Arte do Estado, escreveu sobre a arte local e organizou exposições. Entre 1979/82, fez mestrado em Teoria da Literatura na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Recife, escrevendo sobre Osman Lins. No período de 1983/84, atuou no Campus Avançado da Universidade Federal do Acre – UFAC, em Xapuri. Depois, quando voltou a Rio Branco, lecionou na UFAC e atuou no movimento cultural até 1990. Reside em Campo Grande desde 1991, onde lecionou no Curso de Letras e de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Atualmente, leciona ainda no Curso de Letras e na Pós-graduação da UFMS e organiza a revista Rabiscos de Primeira, destinada a publicações de trabalhos acadêmicos de alunos. Em 1996, faz doutorado na Universidade de São Paulo – USP, dedicando-se à Semiótica do texto e aos estudos das práticas de leitura da paraliteratura. Em 1998 submete-se a uma banca examinadora da USP, obtendo bolsa de um ano em Paris, onde estuda, realiza pesquisas em bibliotecas e visita museus. Em setembro de 2000, conclui o Curso de Doutorado. O artista recebeu os seguintes prêmios:
Primeiro Prêmio no Salão de Artes do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia de Itajubá/MG (1972); Terceiro Prêmio “Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul – FIEMS” no X Salão de Artes Plásticas de Mato Grosso do Sul - MS (1997) e Segundo Prêmio “Governo do Estado de MS” no XI Salão de Artes Plásticas de MS (1998).
Participou de diversas coletivas, destacando-se: Pintores Acreanos em Brasília (1978); XII Salão de Artes Plásticas da UFPE, Recife (1981); exposição Mestres e Contemporâneos, Galeria Rodrigues, Recife (1980); Galeria 3 Galeras, Olinda/PE e Galeria Sol, São José dos Campos/SP (1984); Galeria de Arte da UFAC, Rio Branco (1986); XII Salão de Artes Plásticas de MS, Campo Grande (2001).
Expôs individualmente na Galeria do Hotel Chuí, Rio Branco (1977); no Centro de Artes e Comunicação da UFPE; na Galeria Rodrigues, Recife (1980); na Universidade da Flórida/EUA, em Miami, em Gainesville e em Telahasse (todas em 1987); na Galeria de Arte da UFAC, Rio Branco (1991 e 1994); na Galeria do Banco do Brasil (1993); no Museu de Arte Contemporânea – MARCO (1995); na Morada dos Baís (1996) no Centro Cultural José Octávio Guizzo (2001); na Galeria do SESC/Horto de Campo Grande (2002); no Museu de Arte Contemporânea-MARCO com um “Panorama retrospectivo” (2003) e com “Desenhos – série erótica” (2004), entre outras.
Em 2003 e 2004, o Museu de Arte Contemporânea-MS incorporou ao seu acervo mais de 120 obras, realizadas em diferentes épocas, doadas pelo artista, que possui também obras em diversas coleções particulares. Em 2005, compra um matão cheio de pedra, grutas, conversa de pássaros e almas de outro mundo - começa a criar cabrito: para leite, pintura, carne e narrativas.
Maravilhosas lembranças, ao pesquisar no google sobre minhas referências me deparei com este trabalho incrível "Canibal Visual", simplesmente arrebatador, me transportou para um momento incrível de minha vida, quando tive a oportunidade de receber de um grande mestre Genésio Fernandes as primeiras noções sobre desenho com nankin e relembrar de um outro grande mestre Hélio Melo e os demais colegas que a muito não os vejo. Neutemir de Souza Feitoza.
ResponderExcluirSaudades de ti, Neutemir - e da cidade. Uma hora dessas apareço por ai. Genésio Fernandes
ResponderExcluirMeu inesquecível mestre Genésio Fernandes, encrontrei o Neutemir e ele me falou desse blog. Rapaz, naquela hora todas as lembranças que estão guardadas num espaço especial do coração vieram a mente, e que bom lembrar de você e de seus ensinamentos. Contando, ninguém acredita que participei, juntamente com muitos, da exposição em Brasília, com meu único quadro "Zé da Capoeira", intitulado por você. Um grande e caloroso fraterno abraço. Efrain Enrique Mendoza Mendivil Filho
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