"...Pense portanto um instante em tudo isto, se puder, pois não acho que você encontrará muito o que corrigir. Não posso falar diferente do que penso; é mais ou menos desta forma que é preciso ver as coisas.
Espero que você entenda o que quero dizer no sentido figurado.
Nem eu nem você nos ocupamos com política, mas estamos na Terra, no mundo, e os homens agrupam-se por si próprios em categorias.
Será que as nuvens podem escolher,
afinal, se pertencem a um ou outro grupo da tempestade? Se carregarão eletricidade negativa ou positiva? É bem verdade que os homens não são nuvens. Enquanto indivíduos, fazemos parte de um todo que constitui a humanidade. Nesta humanidade há partidos. Até que ponto é a vontade própria, até que ponto é a fatalidade das circunstâncias, que fazem com que pertençamos a um ou a outro partido?
Enfim, estava-se então em 1848, agora estamos em 1884;
o moinho não existe mais,
o vento continua. Trate ainda assim de saber por si próprio de que lado você realmente se encontra, assim como eu tento sabê-lo por mim mesmo.
Os jovens de
agora não querem
ouvir falar de
mim; muito bem,
isto não me incomoda;
seja como homens, seja como pintores, a geração de meados de 48 me é muito mais cara que a de 84; e, no que diz respeito a 48,
não os Guizot, mas os revolucionários, Michelet, e também os pintores camponeses de Barbizon. (...)"Vincent Van Gogh(1853-1890), Cartas a Théo.L&PM Pocket. 1997